2 – Noções básicas de análise de imagens e vídeos – sujeiras, reflexos e lens flare
No primeiro post, falamos da importância em se utilizar a metodologia e o conhecimento científicos para o estudo dos fenômenos ufológicos e apresentamos algumas dicas para quem vai fotografar ou filmar, além de um guia básico para a análise de fotos ou vídeos:
– Levantamento de possíveis causas naturais ou explicáveis, como planetas ou estrelas, chuva de meteoros, aeronaves, drones, balões, sinalizadores, nuvens, relâmpagos, pássaros, insetos, refrações da luz em partículas suspensas no ar ou nas lentes das câmeras, faróis, luzes em torres;
– Obtenção de informações complementares, como data, hora, local, possibilidade de eventos fortuitos como festas, exercícios militares, etc., e, finalmente,
– A análise das imagens ou vídeos propriamente dita, utilizando softwares específicos, como Adobe Photoshop, Premiere ou outros.
Neste artigo, abordaremos como a sujeira, gotas d’ água, distorções da luz devido a, por exemplo, a reflexos, além de algumas situações específicas, podem, mais do que imaginamos, nos levar a erros de interpretação.
Conforme já dissemos, ufólogos como Toni Inajar afirmam que, infelizmente, 99% das imagens analisadas possuem explicação lógica. No entanto, aqueles 1% realmente instigam nossa imaginação e fascinam a todos os apaixonados pelo assunto. Bora, então, aprender a separar o joio da jóia, quero dizer, do trigo!
“Quando tirei a foto, não percebi nada, somente quando olhei depois!”
É muito comum pessoas fotografarem uma cena absolutamente comum, uma paisagem e, somente depois, perceberem que existe algum objeto “intruso” onde não deveria estar, sendo imediatamente reportado como um “OVNI”. Um olhar mais atento ao suposto intrometido e, principalmente, ao cenário, permite-nos investigar a ocorrência e concluir, na grande maioria dos casos, se tratar de algo perfeitamente explicável, como sujeiras ou gotas d’ água nas lentes das câmeras ou nas vidraças do local, conforme constataremos nos exemplos abaixo.
Gotas d´água nas lentes das câmeras fotográficas ou nos vidro
A imagem abaixo causou alvoroço na internet, há algum tempo, quando passaram a divulgar que as câmeras do Google Maps haviam tirado foto de um OVNI! Confira abaixo a foto, originalmente disponível em https://maps.app.goo.gl/xYCqa8ePfryixafaA (acessado em 13/5/2020):
Fonte: Google Maps
Veja o que aparece bem no centro da imagem acima, claramente uma gota d’ água nas lentes da câmera.
Abaixo, outro caso interessante, reportado ao BUFORA:
Fonte: bufora.org.uk
Olhando atentamente para a fotografia acima, podemos ver que existem inúmeras reflexões e até podemos ler a hora e a data na reflexão do comprovante de estacionamento no painel do carro, comprovando ter sido a foto tirada de dentro do carro, por detrás de uma janela de vidro. O objeto no centro, contudo, aparenta ser realmente uma gota d água. Especial atenção ao lago ou oceano próximo.
Abaixo, outra imagem enviada ao BUFORA para análise:
Fonte: bufora.org.uk
A fotografia acima foi obviamente tirada através do parabrisa de um carro e mostra, um pouco abaixo de sua região central, algo que poderia ser interpretado como um OVNI. Porém, o cenário revela nuvens carregadas de chuva e, embora não pareça estar chovendo, é provável que algumas gotas já tenham se antecipado a cair.
Abaixo, mais um caso que, a princípio, causaria talvez dúvidas, tirada por uma pessoa membro do nosso grupo de estudos:
Fonte: WhatsApp
Questionada, a pessoa confirmou que a foto foi tirada de dentro de um veículo. Nota-se a gota d’ água, em formato alongado, e seu rastro.
Sujeira nas vidraças
A foto abaixo foi tirada em 2015 no Aeroporto de Fortaleza e também causou bastante confusão no meio ufológico:
Fonte: WhatsApp
Ampliação da foto anterior. Fonte: WhatsApp
Porém, caso fosse um objeto realmente grande, pairando sobre o aeroporto, certamente outras pessoas teriam tirado foto (o que não ocorreu) e, quem sabe, até os radares o teriam registrado. Observem o cenário: a vidraça apresenta vários pequenos rastros semelhantes, denotando tratar-se do mesmo tipo de material, ou seja, sujeira.
Abaixo, mais um caso reportado à BUFORA:
Fonte: bufora.org.uk
Acima, nota-se que a fotografia foi tirada através de uma janela com defeito de fabricação e sujeira aderida ao vidro.
Reflexos em vidraças ou vidros
A reflexão da luz, a grosso modo, é um fenômeno óptico que acontece quando a luz incide numa superfície refletora e se propaga conforme seu ângulo de incidência.
Quanto mais plana a superfície, mais a reflexão é regular, sendo os feixes de luz refletidos bem definidos. Um bom exemplo seriam os espelhos; entretanto, vidraças de edifícios ou de veículos costumam também refletir parte das luzes, causando bastante confusão entre os neófitos na ufologia, como veremos nos exemplos a seguir.
A fotografia abaixo foi tirada por esta autora, em 2019, em testes de demonstração sobre o fenômeno de reflexos em vidraças:
Foto: Fatamorgana
O interessante é que o reflexo aparenta estar por detrás da grade, o que poderia causar certa confusão de interpretação.
A imagem abaixo foi tirada recentemente no Terminal Intermodal de Maringá:
Fonte: Facebook
Olhando atentamente, percebe-se o reflexo de spots de led sendo refletidos na vidraça interna do local.
Fonte: tudointeressante.com.br
Nesta foto acima, novamente, observa-se o reflexo de luminárias em formato de disco.
Abaixo, foto tirada de dentro de avião comercial e enviada à BUFORA, para análise:
Fonte: bufora.org.uk
Na foto acima, a testemunha reporta ter fotografado três “OVNIs em forma de esfera ou Orbs”, pela janela do avião. Nesse caso, possivelmente a luz do sol entrou pela janela, refletiu-se em algo dentro do avião e retornou para a janela, refletindo-se novamente na parte interna das paredes duplas e causando essa impressão.
Vejam mais casos em https://bufora.org.uk/Reflecting-on-UFO-Images.php
Lens Flare
Lens Flare, em tradução livre “reflexo da lente”, é uma aberração óptica, um erro, causado pelo desvio da luz que passa através daquele sistema ótico, em decorrência de reflexões internas e de imperfeições materiais das lentes.
Assim, a luz se desvia e acaba não convergindo para os pontos “corretos”, produzindo artefatos indesejados na imagem. Acontece, principalmente, em resposta a fontes de luz muito brilhantes.
Lentes com “zooms” tendem a exibir maior reflexos de lente, pois contêm um número relativamente grande de interfaces nas quais a dispersão interna pode ocorrer. Esses mecanismos diferem do mecanismo de geração da imagem focada, que depende dos raios da refração da luz do próprio objeto.
Os fabricantes necessitam prever formas de corrigir esses sistemas ópticos, de modo a compensar tais aberrações, mas isto eleva, e muito, o preço das lentes. Assim, a maioria das câmeras está sujeira ao Lens Flare.
Algumas pessoas pensam tratar-se de “orbs” (tipo de sondas luminosas extraterrestres). Vimos que, na realidade, aberrações ópticas são extremamente comuns e explicam facilmente o fenômeno. Abordaremos especificamente os “orbs” nos próximos tópicos.
Perceba que a bola de luz também pode se movimentar, conforme a câmera se movimenta também, obedecendo, por exemplo, aos movimentos da mão que segura a câmera.
Notem como uma fonte de luz forte pode reproduzir o fenômeno:
Esquema de Lens Flare. Fonte: Wikipedia
Exemplo da formação de um ponto “extra” causado por Lens Flare.
Fonte: Wikipedia
Mais exemplos de Lens Flare:
Fonte: Wikipedia
Fonte: WhatsApp
Fonte: Internet
Lens Flare com arco-íris duplo. Fonte: Twitter
Fonte: WhatsApp
Fonte: WhatsApp
Fonte: WhatsApp
Agora, um caso bem interessante. A imagem abaixo foi enviada em nosso grupo:
Fonte: WhatsApp
Notam-se várias luzes nos céus. Nossos olhos atentos rapidamente perceberam que as luzes eram, na verdade, reflexos nas lentes internas da câmera. Verifiquem que os padrões se repetem, de forma inversa:
Fonte: WhatsApp
Outra análise, feita em grupo de WhatsApp, por Toni Inajar:
Nesta primeira foto, notam-se quatro luzes no céu:
Fonte: WhatsApp
Em seguida, Toni realizou a medição utilizando ferramentas simples de edição de imagem e constatou, utilizando as leis da física, que as tais luzes no céu possuíam a mesma distância e angulação, referente ao ponto central, das luzes abaixo da foto, ou seja, são realmente um reflexo. Daí a importância em se analisar a imagem original, sem zoom e sem cortes, de modo a ser possível determinar o “ponto central” da mesma, a partir do qual o estudo é feito.
Fonte: WhatsApp
Para fechar com chave de ouro, copiou as luzes da parte inferior, as inverteu e comparou com as luzes do céu:
Fonte: WhatsApp
Outra análise de foto by Toni Inajar:
Fonte: WhatsApp
A técnica que Toni nos ensina deve ser realizada na imagem em tamanho original e consiste em:
- identificar o ponto central da foto (vide linhas vermelhas);
- criar uma linha entre o objeto mais luminoso e o “orb” (vide a linha amarela);
- verificar que esta linha amarela passa pelo centro da imagem;
- verificar que a distância entre o ponto mais luminoso e o “orb”, a partir do centro da imagem, é idêntico.
De certa forma, podemos afirmar que existe uma certa similaridade entre a pesquisa do ufólogo e o inquérito policial. Não é à toa que Toni Inajar Kurowski, considerado um dos mais importantes especialistas em exame de fotos e filmes de discos voadores, é perito criminal do Instituto da Polícia Civil do Paraná e coordena o Grupo de Análises de Imagens da Revista UFO, da qual também é coeditor. É isso aí, nada melhor do que aprender com o melhor especialista brasileiro em análise de imagens, quiçá do mundo!
Mas tudo tem explicação então? Não existem OVNIs?
Lembremos, entretanto, que, apesar de a maior parte das imagens de supostos OVNIs possuírem explicações lógicas, há aqueles 1% de imagens ou vídeos inconclusivos, e é para isso que estamos aqui! Nem tudo é sujeira ou reflexo nos vidros, Lens Flare, Orb, Rod, Blurfo, Drone, Balão, etc.. Mas, como estudiosos ou pesquisadores, temos a obrigação moral de analisar cada imagem.
Há milhares de registros de objetos voadores não identificados capturados em fotos ou filmes cujas análises são inconclusivas e podem SIM, talvez, se referirem a naves espaciais reais.
Nos próximos posts, continuaremos a detalhar a identificação de possíveis causas naturais. No próximo artigo abordaremos os Black Spots, Orbs, Rods e Blurfos.
Finalizando, gostaria de lembrar, novamente, que não faz parte dos objetivos do Grupo de Estudos Ufologia Integral Brasil – UIB – analisar imagens ou vídeos; os artigos fornecem apenas orientações iniciais sobre o assunto, de modo que cada um possa realizar seus próprios estudos e análises.
Fontes:
https://bufora.org.uk
https://fotografiamais.com.br/diafragma-camera/
Importante: o conteúdo, os fatos e as opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor(a) e não refletem, necessariamente, a opinião dos administradores do UIB.
Equipe UIB
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